20061111

O filme do livro

O Perfume
Janet Schayan
O filme do ano: Tom Tykwer faz de “O Perfume”, o romance recordista de Patrick Süskind, um grande evento cinematográfico



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Nesta filmagem, Grenouille, o personagem do romance, teria caído em êxtases olfativos. Seu perfeito olfato teria decomposto em moléculas de odor várias toneladas de restos de peixes nas vielas do bairro antigo de Barcelona, teria farejado os muros salpicados de estrume, barro e sujeira e o suor de centenas de figurantes. Tudo isto esteve a serviço de um grande objetivo, ou seja, de dar nova vida à Paris do século XVIII para a tela do cinema. Mas Grenouille também teria podido inalar o odor intenso e embriagante de lavanda na região francesa de Provence e o ar aquecido pelos refletores nos estúdios Bavaria. Em 75 dias de rodagem nesses lugares, Tom Tykwer transpôs em cenas cinematográficas o mais vendido romance alemão no momento: “O Perfume”, de Patrick Süskind.

O enredo gira em torno Jean-Baptiste Grenouille, um tipo retraído e esquisito, nascido em 1738 no “lugar mais fedorento” do mundo, o lixo de resto de peixes do mercado de Paris. Ele desenvolve um olfato finíssimo e acaba por assassinar uma dúzia de mulheres jovens, para poder ganhar delas o perfume mais apurado que existe, o odor do amor, o perfume que lhe dá o poder sobre as outras pessoas e, finalmente, o odor que o irá despedaçar interiormente. É um suspense literário, um conto de fadas tenebroso, um romance que magnetiza, que, após sua primeira edição em 1985, esteve entre os mais vendidos durante nove anos, que foi traduzido em 42 línguas e do qual foram vendidos 15 milhões de exemplares no mundo todo. Um livro que não poderia ser filmado, segundo a opinião do magistral Stanley Kubrick, pois como se poderia transformar em imagens as descrições sensibilíssimas dos odores, das quais vive o romance? Além disso, Süskind, o autor do romance, cuja imagem de esquisitão já poderia servir de roteiro para um filme, não queria vender os direitos autorais de maneira nenhuma, nem mesmo para os grandes de Hollywood, como Scorsese e Spielberg. E isto durante quase vinte anos. Mas Bernd Eichinger, obstinado produtor alemão (“O Nome da Rosa”, “A Queda”), cujo faro especial para bons roteiros já vinha perseguindo “O Perfume” desde anos, conseguiu convencê-lo. Pode ser que a suposta soma fabulosa de 10 milhões de euros também tenha sido um dos fatores convincentes.

Para diretor, Eichinger conseguiu engajar Tom Tykwer que dera novo impulso ao cinema alemão com “Corra, Lola, Corra” no fim da década de noventa. Tykwer seria o predestinado, afirma Eichinger, pois não queria fazer do livro um filme policial, mas, sobretudo, preocupar-se com a psicologia de Grenouille.

Após três anos de preparação e filmagem, “O Perfume: História de um Assassino” estreará nos cinemas alemães em 14 de setembro. Talvez seja este um dos raros filmes, cujo grande público, tendo lido o romance, já tenha imagens pré-formadas na mente antes de o assistir. Isto não é bom, mas os primeiros trailers e as primeiras fotos de cenas são sedutores: cenas escuras e cheias de segredo à luz de velas, uma linda jovem com cabelos ruivos ondulados e uma pele tão branca como alabastro (Rachel Hurd-Wood no papel de Laure Richis, a última vítima de Grenouille). É um cenário perfeito, com decoração até nos mínimos detalhes da rotulação dos frascos de perfumes e da sujeira do fim da era barroca.

Tykwer reuniu estrelas internacionais para o elenco secundário: Dustin Hoffman no papel do perfumista Baldini que ensina a Grenouille destilar e dar durabilidade aos perfumes. O britânico Alan Rickman – o professor Snape da série “Harry Potter” –, as alemãs Corinna Harfouch e Jessica Schwarz também fazem parte do elenco. Karoline Herfurth, ainda não muito conhecida, faz o papel do grande e espontâneo amor de Grenouille: ela é a jovem vendedora de abrunho, com a qual começa a série de assassinatos de Grenouille e a sua busca fatal pelo perfume dos perfumes.

Quem interpreta o papel principal? O papel desse personagem tenebroso, sanguinário, genial e repugnante de Süskind, que teria de ser “feio, mas não tão feio a ponto de causar susto?”. A procura do Grenouille adequado foi “quase a coisa mais difícil dessa produção”, confessa Tykwer. Ele e o produtor Eichinger o teriam procurado durante um ano e meio.


Quem é adequado para o papel do genial e tenebroso Grenouille?


Pensou-se em astros como Leonardo di Caprio, o loirinho do “Titanic”, e em Johnny Depp, o “fabricante de chocolate”. Mas se diz que Orlando Bloom e Jude Law, os queridinhos das garotas, também foram candidatos ao papel. Todavia, esse papel tenebroso foi finalmente entregue a Ben Whishaw, ator de teatro britânico, que desempenhou um notável Hamlet em Londres. Fora isso, pouca coisa se sabe deste ator de 26 anos, que entra agora para a história cinematográfica como o monstruoso Grenouille. Como Tykwer resolveu o outro grande problema, o de que os odores – aliás, os personagens principais – são invisíveis? Para esta questão, ele tem uma resposta na ponta da língua, que, pelo menos por um momento, desnorteia: “O livro também não tinha cheiros”. O melhor é ir ao cinema em meados de setembro.


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